Nem sei por onde começar.
Eu queria me abster de comentários políticos aqui no blogs nessas eleições, mas não vai ter como. Não depois do que houve ontem.
Eu nem ia assistir o debate, eu estava é mais feliz jogando Child of Light, que eu comprei original pro meu WiiU que também é bloqueado, etc, etc, tudo com imposto pago e sem pirataria. Porque né – trabalho e pago imposto como todo brasileiro.
jogo mais lindo do ano, aliás
Mas aí dada a insistência da Chuck e do @_Leander eu desliguei o videogame, e liguei o debate, e liguei meu notebook pra traduzir um artigo da Hilgames que eu pretendo publicar hoje no blog. Ou seja – estava TRABALHANDO, porque né – trabalho e pago imposto como todo brasileiro.
Nem prestei muita atenção, porque o debate estava parecidísismo com os anteriores, tudo meio igual com Dilmarinaécio, etc. Mas não passaram cinco minutos depois de eu ter ligado a TV, e Luciana perguntou ao Fidélix
Por que pessoas que defendem a família se recusam a reconhecer como família pessoas do mesmo sexo?
E aí deu-se a desgraça:
essa tarântula é de estimação, candidato?
Vamos à transcrição da fala dele, que eu copiei dessa página pq deu preguiça de escrever sozinho.
“Jogou pesado agora, hein. Nessa aí você jamais deveria entrar, economia tudo bem. Olha, minha filha, tenho 62 anos, pelo que eu vi na vida dois iguais não fazem filho. E digo mais, desculpe, mas aparelho excretor não reproduz. É feio dizer isso, mas não podemos jamais, gente, eu que sou um pai de família, um avô, deixar que tenhamos esses que aí estão achacando a gente do dia a dia, querendo escorar essa minoria, à maioria do povo brasileiro. Como é que pode um pai de família, uma avô, ficar aqui escorado porque tem medo de perder voto? Prefiro não ter esses votos, mas ser um pai, um avô, que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto. E vou acabar com essa historinha. Eu vi agora o santo padre, o Papa, expurgar, fez muito bem, do Vaticano um pedófilo. Está certo. Nós tratamos a vida toda com a religiosidade pra que nossos filhos possam encontrar, realmente, um bom caminho familiar. Então, Luciana, eu lamento muito. Que façam bom proveito se querem fazer e continuar como estão, mas eu, presidente da República, não vou estimular. Se está na lei, que fique como está, mas estimular jamais a união homoafetiva”.
E na tréplica:
“Luciana, você já imaginou que o Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se começarmos a estimular isso aí daqui a pouquinho vai reduzir pra 100. Vai pra Paulista e anda lá e vê, é feio o negócio, né. Então, gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. vamos enfrentar, não ter medo de dizer que sou pai, mamãe, vovô. E o mais importante é que esses, que têm esses problemas, realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo mas bem longe da gente, bem longe mesmo por aqui não dá”.
Depressive feelings mimimi
Sério, homofobia dói.
Muito.
Porque é algo gratuito.
O que foi que fizemos contra as pessoas?
Gays trabalham, gays pagam impostos, gays movimentam economia, e gays amam também, por que então tem que ser desrespeitado? Por que ter direitos reduzidos? Por quê?
Sério, não fiz nada de mal, não prejudiquei ninguém, pelo contrário, ajudo sempre que posso. Então por que isso?
RIP respeito.
Anyway, só vou conseguir trabalhar direito hoje – SIM! EU TRABALHO! Olha que coisa, né? Pago imposto descontado em folha e tudo, pago até imposto de renda! – se eu realmente desconstruir isso aí. Não é nem pelos colegues que estou fazendo isso, é por mim mesmo, que acordei só pensando nisso, e lembrando daquela notícia que saiu esses dias de um gay sendo “purificado” por religiosos, o que significou atear fogo ao rapaz, porque é gay. Não vou conseguir me concentrar hoje se eu não me defender aqui do discurso do candidato (porque ser gay é isso, é se defender o tempo todo, porque o tempo todo tem alguém rindo, alguém achando feio, alguém olhando torto, ou pior, agredindo, batendo, matando).
Vamos lá:
“dois iguais não fazem filho. E digo mais, desculpe, mas aparelho excretor não reproduz.” – colega, não é só gay que ~não reproduz~, a base do casamento (com exceção de algumas religiões) não é a reprodução, senão pessoas estéreis, mulheres na menopausa, homens na andropausa, e pessoas que NÃO querem ter filhos não poderiam se casar. E apesar de ~aparelho excretor~ não reproduzir, o senhor certamente já teve curiosidade de colocar o seu ~aparelho reprodutor~ no ~aparelho excretor~ de outra pessoa. Se é que não colocou né, não sei. E nada de mal aconteceu por isso.
“Prefiro não ter esses votos” – certamente não terá, depois dessa.
“mas ser um pai, um avô, que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto.” – caríssimo, eu tenho bastante vergonha na cara, trabalho, pago impostos e faço tudo que uma pessoa ~com vergonha na cara~ faz. E certamente não sou gay por falta de instrução, eu tenho até pós-graduação, penso em fazer mestrado e tudo. Meus pais, ou já que você quer falar da figura masculina, meu pai me educou muito bem, e tem muito orgulho da minha instrução, chorou na minha formatura e tudo. E ele, que foi caminhoneiro (e pobre), consertava o próprio caminhão, e me chamava pra ajudar. Então eu passei várias horas da adolescência com as mãos cheias de graxa fazendo algo bem ~masculino~ que é consertar caminhão. E continuo gay.
“Eu vi agora o santo padre, o Papa, expurgar, fez muito bem, do Vaticano um pedófilo. Está certo.” – BOA! Concordo, tem que expurgar um pedófilo sim, pedofilia é crime, não tem só que expurgar, tem que prender. MASSSSSS o que isso tem a ver com homossexualidade? É triste que essa comparação tenha sido feita, porque uma coisa nada tem a ver com outra. Inserindo falácias no meio de um discurso de ódio, que nonsense (além de agressivo).
“pra que nossos filhos possam encontrar, realmente, um bom caminho familiar.” – é um dos meus anseios de vida, casar, ter duas crianças (provavelmente adotar crianças rejeitadas por pessoas heterossexuais que as fizeram sem usar o ~aparelho excretor~) e um ou mais cachorros, numa casa com cerquinha branca e etc. Espero mesmo que seja esse o meu caminho. Again, nada a ver uma coisa com outra.
“o Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se começarmos a estimular isso aí daqui a pouquinho vai reduzir pra 100” – parece piada que uma pessoa acredite verdadeiramente que gays vão fazer com que a reprodução dos humanos acabe e a espécie termine. Bizarro, essa nem tenho argumentos, porque a própria afirmação dele não fez sentido.
“Vai pra Paulista e anda lá e vê, é feio o negócio, né.” – eu passei na Paulista uma vez na vida apenas, e fiquei tão abismado com a beleza da arquitetura do MASP que não vi nada mais. Não achei o tal negócio feio.
“Então, gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria.” – WHAT? De novo – o que foi que fizemos de ruim para ~a maioria~? O que ~a maioria~ perde ou ganha com isso? E enfrentar significa o quê? Pra mim esse enfrentar significa um chamado à violência, significa “vamos agredir, vamos extinguir, vamos matar até o último”.
“E o mais importante é que esses, que têm esses problemas” – problemas? Problema é homofobia, problema é queimar pessoas por orientação sexual, atacá-las com lâmpadas, assassinar, agredir, rir, e achar que é certo fazer todas essas coisas. Isso é um problema.
“realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo mas bem longe da gente, bem longe mesmo por aqui não dá” – o candidato sabe que não existe ~tratamento~ psicológico para homossexualidade, né? Que não é doença, né? Então não sei que tipo de atendimento gays precisam receber. Aliás, sei sim, gays precisam receber atendimento médico após serem agredidos, por exemplo. Mas nada disso precisa ser ~bem longe~. Não é doença, nem é contagioso nem nada. Não precisa ser bem longe porque não vai pegar. Mas pode ter certeza, que agora quem quer ficar bem longe do senhor, são os gays. Pra não serem contagiados pela estupidez desse discurso.
Porque é com base em discursos como esse (e vários outros, claaaaaro, Malafaia/Everaldo/Bolsonaro/Feliciano/etc não deixam Levy falar sozinho) que as pessoas que agridem e matam gays assim o fazem. Justificando que estão de acordo com o que esses discursos pregam. “Vamos enfrentar essa minoria”. E aí criminosos enfrentam, a bala, porrete, pedaços de pau, etc, batem, matam e por aí vai. As mãos do Levy não estão sujas de sangue, mas a língua sim, a língua que inflama outras pessoas a se sujarem de sangue por ele.
Eu torço muito, mas MUITO, pra que a Luciana Genro, que é a única candidata que defende ~essa minoria~, se não ganhar, que ao menos saia do patamar dos “pequenos”, e tenha muito, muito, muuuuuuito mais do que Levy Fidelix & cia. Que ao invés de 1%, tenha 2%, 3%, 5%, 10%, 20%, 40%, 100%, quanto mais melhor. Vai, Luciana!
Ufa, pronto, agora estou de alma lavada. Agora já posso trabalhar pra pagar meus impostos em paz. Porque né – trabalho e pago imposto como todo brasileiro.
Beijos, boa tarde chuva, boa tarde flowers.
PS: Gostaria de estender a palavra “gay” usada aqui a todos os LGBTs, e todos que nem cabem na sigla LGBT, mas que merecem respeito como todo ser humano.